Não desperdiçar: Aprendizagem necessária
http://observatoriodabacia.sor.ufscar.br/2015/02/nao-desperdicar-aprendizagem-necessaria.html
Em 2012, li o artigo “Aspectos
Linguísticos e Educação Ambiental na Aprendizagem Infantil” escrito por Graziela
C. Montanhim, na época, graduanda em Ciências Biológicas Licenciatura na
Universidade Federal de São Carlos – Sorocaba, e por Mônica F. Caron e Heloísa
C. S. Cinquetti, docentes da mesma Universidade, publicado na Revista Pesquisa
em Educação Ambiental, e hoje é um dos documentos científicos que estão no meu
Top 10 de artigos relacionados ao quesito Água/Educação Ambiental. O estudo
discutiu a expressão linguística de 13 crianças, entre 5 e 6 anos, abordando-as
sobre atividades relacionadas ao tema água: conceito de água, suas finalidades,
sua importância, desperdício, poluição, músicas e profissões. Em todos os temas
discutidos, houve a realização de desenhos, leitura de histórias, visualização
de vídeos, dentre outras atividades para elucidar e auxiliar na aprendizagem
das crianças sobre o tema.
Dentre os
subtemas, o do “desperdício” é de crucial entendimento, e levantou-se uma série
de questões, como por exemplo: “Vocês acham que a calçada sente sede? Por que a
lavamos? Por que as pessoas as lavam todos os dias? (...)”. E uma ordem de prioridades
do uso da água foi estabelecido (i) saciar a sede, (ii) alimentação, (iii) higiene,
(iv) consumo industrial, fazendo com que as crianças vejam que a água pode ser
categorizada por ter diversas finalidades de extrema importância para todos
nós.
Quando foi perguntando se já
viram alguém lavando a calçada, todas as respostas foram afirmativas; e quando
perguntado se era por que a calçada sentia sede, a resposta da maioria foi
afirmativa. A resposta positiva com relação à segunda pergunta deve ter ocorrido
devido ao fato das crianças associarem qualquer elemento com o corpo humano,
havendo interpretação literal de metáforas, comum na aprendizagem. Juntamente
com o “sim”, referente à segunda pergunta, uma criança respondeu que é porque a
“planta sente sede”, associando o termo “sede” com as plantas serem regadas na
hora da lavagem do quintal pelo adulto. Outra criança respondeu negativamente
“ela [a calçada] não pede água”, e a partir daí, questionou-se “por que lavar a
calçada?”, com o objetivo de problematizar o ato. E as crianças responderam que
“o vento a suja”, “sai sapo” e “a nuvem traz chuva”, remetendo-se às folhas
sujarem a calçada, à alguma experiência vivida pela criança, e por existir
consenso geral da população que a chuva suja, pois traz consigo galhos, terra,
dentre outros.
Quanto a pesquisadora questionou
“O que podemos fazer para não desperdiçar água?”, houve uma ‘enxurrada’ de
respostas, tais como, “Tomar tudo, tia” e “Quem tá com sede bebe água”.
Montanhim (2011) conclui que a ideia dos alunos parece ser a de consumir apenas
o necessário, o que evita o desperdício.
O conceito de “consumir apenas o
necessário” varia de pessoa para pessoa, levando em conta seu padrão de vida e
valores; entretanto, segundo os pesquisadores, as crianças sabiam exatamente o
que fazer para não haver o desperdício da água, imagina-se que pelo fato da
própria escola, onde a pesquisa foi feita, incentivar as crianças a colocar
pouca comida no prato e fechar a torneira enquanto escovam-se os dentes, por
exemplo.
Como concluiu Montanhim (2011),
conduzir a ação educativa perante temas naturais necessita de uma comunicação
efetiva entre o educador e a criança, além do preparo do educador sobre o tema
tratado e das diversas dúvidas e vivências que as crianças podem trazer.
A meu ver, é infinitamente
necessário abordar assuntos da temática nas escolas de maneira aprofundada,
como ocorreu neste projeto. Notaram-se posicionamentos por parte das crianças
no que se referiu ao subtema “desperdício”, e surgiram chances da educadora
inserir valores éticos e sustentáveis, que auxiliam na formação de um cidadão
ecologicamente consciente, cada vez mais necessário na problemática da água a
qual estamos vivenciando.
Por Samara Rached
Souza
MONTANHIM, G. C.; CARON, M. F.; CINQUETTI, H. C. S. Aspectos Linguísticos e Educação Ambiental
na Aprendizagem Infantil. Revista Pesquisa em Educação Ambiental, vol. 6,
n.2 – p. 11-32, 2011.