A Culpa é de Quem?
http://observatoriodabacia.sor.ufscar.br/2015/03/a-culpa-e-de-quem.html
Em meio a atual crise hídrica,
somos bombardeados pela mídia e pela publicidade em geral com mensagens de
inúmeras medidas para o combate ao desperdício de água. As propagandas são
audaciosas. Algumas dizem que se os cidadãos economizarem não faltará água para
ninguém, utilizando de celebridades para ensinar, por meio de simulações e
artifícios como cronometrar o tempo de utilização do recurso.
Mas essa é a real e exclusiva
causa do problema enfrentado no quadro atual? Foram os minutos a mais de banho
do seu vizinho que secaram o Sistema Cantareira? O que mais ajudou a criar esse
problema?
Muitas informações não são
repassadas aos contribuintes e quando o são, geralmente possuem problemas como
a divergência de dados. Uma informação importante é que há perda de água pelos
inúmeros vazamentos da rede de abastecimento e pelos diversos desvios ilegais
na tubulação em boa parte do território nacional. A contabilização dessa perda
só para o Estado de São Paulo chega a 40% do total destinado ao abastecimento.
Outra questão importante é que a parcela de água utilizada pelo agronegócio
também não entra nessa conta, já que muitas vezes a água é obtida por meio de
poços artesanais e afins.
Claro que as propagandas devem
incentivar o consumo sustentável, mas essa sustentabilidade deveria ser
aplicada às próprias concessionárias. São exigências vindas de órgãos que ainda
nem fez sua lição de casa. A sustentabilidade deveria começar como um exemplo
das concessionárias, assim como das prefeituras e dos governos que as
administram. Culpar os cidadãos por um problema tão grande, sendo que parte
destes nem possuem água encanada em suas casas e muito menos tratamento de
esgoto chega a ser um insulto.
As grandes empresas e os bairros
nobres não sofrem com rodízios de água. Tirar da
população pobre pra não deixar faltar às pessoas “que movem a nação” é absurdo.
A água é um recurso vital e não deveria ser mais um bem distribuído de maneira separatista.
Os problemas com os recursos hídricos estão presentes há anos, mas permitir que
a situação continue a ser empurrada para debaixo do tapete é inadmissível.
Mesmo se todos os cidadãos comuns
economizassem água em todas as suas mínimas atividades, ainda teríamos muitos
outros problemas para enfrentar. Problemas estes que nos empurrariam cada vez
mais em direção ao volume morto. São inúmeras as lacunas não preenchidas que
impossibilitam a contabilização real do uso e da perda de água. Mas uma coisa é
certa. A culpa não é mais nossa do que de muita gente por ai.