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Vai Acabar a água em Sorocaba?

A conservação das áreas de nascentes e de recarga com a recomposição da vegetação nativa em bacias hidrográficas urbanas e rurais é essencial


André Cordeiro Alves dos Santos 

As Regiões Metropolitanas de São Paulo e Campinas vivem a iminência de uma grave crise de desabastecimento de água e uma das principais críticas ao Poder Público sobre a condução deste problema foi a apatia e obscuridade do Estado quando os indicadores já eram evidentes. 

A situação da capital ou da vizinha Itu sempre desperta a pergunta: e Sorocaba, corre também o risco de enfrentar crise semelhante? A resposta é que apesar de não estarmos, ainda, em uma crise de desabastecimento o risco existe e os sinais de alerta já são visíveis. 

Em 2014 houve desabastecimento em bairros da região leste de Sorocaba. O que já indica que parte do sistema de abastecimento da cidade não suporta períodos de estiagem mais severos. 

O reservatório de Itupararanga, principal manancial, está com volume baixo e as chuvas menos intensas do último verão, somados ao verão seco do ano anterior e as previsões pessimistas para este primeiro semestre, levam a dúvidas sobre a capacidade de o reservatório se recuperar para níveis que permitam uma maior tranquilidade para o restante do ano. 

Juntem-se a este cenário os já conhecidos problemas na qualidade da água do reservatório, que tende a se agravar em situação de baixo volume, e a competição de Sorocaba com os diversos usos deste sistema como a irrigação, geração de energia e captações a montante. 

O que fazer então para que Sorocaba não enfrente uma crise de desabastecimento? Basicamente fazer o contrário do que o poder público fez em Itu e está fazendo em São Paulo, não negar o problema e tratá-lo com transparência, participação popular e planejamento. 

O poder público tem que divulgar e atualizar constantemente os dados sobre o volume de água disponível nos mananciais, com previsões de disponibilidade em diversos cenários, para subsidiar a definição de metas claras sobre a demanda de água. Esta transparência permite o planejamento, e também empondera a população permitindo que esta se torne coparticipante da solução. 

Para economizar água, ação importante em um planejamento de médio e longo prazo está à redução das perdas na rede, o reúso de água e a proteção de nascentes. A junção da redução de perdas com o reúso de água pode reduzir em mais de 50% o consumo e a conservação de nascentes é uma forma segura de manter e aumentar a disponibilidade de água. 

Para reduzir as perdas é necessário primeiro dar publicidade constante ao índice de perdas na rede de distribuição assim como sua metodologia de quantificação e monitoramento e definir metas claras e investimentos para reduzir estas a níveis mínimos (15%). Tanto no Plano Diretor de Águas de 2000 quanto no Plano de Saneamento Básico de 2014 o índice de perdas declarado em Sorocaba é de 30%. 

Investimentos públicos são necessários também para incentivar o reúso de água tanto no aproveitamento de água de chuva em residências, comércios e prédios públicos quanto em sistemas de tratamento de efluentes em grandes centros comerciais e indústrias. 

A conservação das áreas de nascentes e de recarga com a recomposição da vegetação nativa em bacias hidrográficas urbanas e rurais é essencial. Esta conservação passa tanto por recuperar bacias já impactadas como proteger áreas da ocupação urbana e consequente impermeabilização do solo, questão esta completamente esquecida no atual plano diretor de Sorocaba. 

E por ultimo, é necessário um plano de contingência para situação de escassez, se as medidas anteriores não surtirem resultado, e nenhuma delas surte em curto prazo. Este plano deve ser capaz de indicar mecanismos emergenciais de gestão, como priorizações e restrições de uso, e mecanismos para reduzir o impacto na economia e nos empregos, que são afetados em uma crise. 

O mais importante é tratar o cidadão como corresponsável na solução do problema e não somente como parte do problema e isso só possível com transparência, com incentivo a participação popular através de fóruns e conselhos de gestão e com bons exemplos do poder público através de planejamento e ações. 

Prof. Dr. André Cordeiro Alves dos Santos é doutor em Ciências da Engenharia Ambiental - Departamento de Biologia do Centro de Ciências Humanas e Biológicas da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)


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